quarta-feira, 20 de abril de 2011

PRINCESA URBANA

Logo cedo no meu reino o dia é inventado.
Muito cedo o som do despertador rasga o silêncio da manhã e me chama para a vida.
Eu, obediente, me permito abrir os olhos devagar. Desprendo-me do sonho real.
Faço manha para os meus lençóis... Estico-me e acordo cada parte de mim.
Do alto da minha torre, posso ver o sol e o seu calor passa a ser o meu motivo.
Tomo um banho gostoso... Óleo de amêndoas doces, cheiro de jardim florido.
Jeans, All Star, make up.
Dou uma olhada no espelho.
Não... Hoje não vou usar minha coroa de princesa... Nem grinalda... Nem enfeite.
Hoje, como ontem, como todos aqueles ontens, serei simples.
Na minha simplicidade encontro minha beleza. Minha realeza.
Espelho, espelho meu! Existe alguém mais princesa do que eu? Não.
Não existe. Fato.
A rua me chama. Obedeço. Sou engolida por ela.
Seu cinza me encanta! Como é poético o cinza urbano... É acolhedor! É maravilhoso.
[...]
Carruagem coletiva a caminho do ofício.
Fone nos ouvidos, sons que me tiram da órbita... Eu apenas observo os transeuntes.
Engraçado como todos os rostos nas ruas são tão previsíveis. Cada expressão, cada nariz, cada gesto... Reconheço todos no meu reino, sem conhecer de fato. Invento suas vidas no meu pensamento...
Com a generosidade de alteza que me cabe, distribuo sorrisos por onde passo...
[...]
Chego ao local do ofício e exerço bem a minha função... Passo manhãs e tardes em meio a números mágicos que de certo modo me dignificam...
Olho a plebe pelas calçadas na hora do banquete. Me dói alguns meninos... Pequenos príncipes abandonados virando sapos, virando ratos... Vivendo num sub-reino que a realeza finge não existir. Mas é real... Nem sequer é cenário de algum conto de fadas...
Evito aqueles olhares... Eles me causam remorso, por algum motivo...
[...]
A tarde surge encantada... As horas escorrem pelas paredes, o tempo voa em sua sabedoria infinita...
Há cansaço. Não há suor porque princesas não suam...
Risadas, pausas, café para recobrar as forças!
(Um segredo de princesa: Há uma felicidade escondida no café das cinco)
Pouco a pouco, me dou conta que a minha realidade existe entre os sonhos... Os meus, e os dos meus... Porque acolho aqueles que comigo passam suas horas bem embaixo de minhas asas...
[...]
Num instante a escuridão invade o reino e tudo o que eu quero é estar de volta ao meu palácio...
Mais uma vez, a carruagem coletiva é o meu transporte (embora, neste momento sempre anseio por um tapete mágico... Daqueles que voam... Mas como disse, sou princesa e não fada. Não tenho poderes... Ainda não.)
Mas o barulho dos carros faz meu coração acelerar! Sinto uma ansiedade, uma agitação interna como se o mundo estivesse por um fio! Como se a menina do circo, andasse na corda bamba sem a rede de proteção... Eu gosto um tanto dos sinais de transito e suas luzes...
Ao longe vejo morros e colinas, cobertos por luzinhas... É tão melódico! Tão artístico...
Sinto de perto a essência das coisas... As pessoas por um triz.
A vida, sendo vivida no escuro.
A noite me faz bem... Seus mistérios e seu azul marinho... Tudo muito excitante.
[...]
Chego ao meu palácio e uma saudade louca me invade o peito... Ele queima de amor.
Ligo para o meu príncipe e uma paz verdadeira toma conta de mim... Ele é meu vício bom...
Nossa história tem sido escrita com tanto carinho, com tanto amor, que já posso ouvir os acordes do final feliz!
Após o afago da voz de meu príncipe encantado e imperfeito, tomo um banho gostoso... Óleo de amêndoas doces, cheiro de jardim florido.
Roupas leves e alvas para o corpo se sentir amado...
Não possuo bola de cristal, mas duas telas me divertem um pouco... Fazem as vezes de um bobo da corte! Numa vejo a vida inventada. Noutra vejo a vida do jeito que as pessoas do reino gostariam que ela fosse.
Em ambas as telas, tudo é muito fictício... As pessoas são um tanto plásticas... Pouca gente tem coragem de ser o que é.
Pouca gente tem coragem de ser.
Perco tempo. Ganho rugas. Passo cremes.
Sinto o tempo...
Espelho, espelho meu! Existe alguém mais princesa do que eu? Não.
Não existe. Fato.
[...]
Do alto da minha torre, posso ver a lua e o seu prateado passa a ser a minha inspiração. O meu objetivo.
Eu sinto vontade de celebrar a vida.
[...]
Como uma bela adormecida, o sono lança em mim o seu feitiço e eu busco aconchego em meus lençóis...
Como anjo em nuvem, adormeço.
Há uma entrega verídica ao mundo dos sonhos, onde a magia rege a vida real.
Todo o meu reino dorme comigo. Todo o meu reino sonha comigo...
Todo o meu reino conta minha história...
E por fim, só uma frase ecoa no espaço...

“E viveram felizes para sempre”
Cristiane Cruz

segunda-feira, 18 de abril de 2011

SONHAR

Muitas pessoas pensam que sonhar é apenas uma simples mania que a gente tem de maquiar a realidade. Eu discordo. Sonhar não é o simples ato de imaginar algo que se deseja.
Sonhar vai muito mais além do que uma pessoa comum é capaz de compreender. Sempre digo que o “sonhar” é para todos, mas a capacidade de um sonho são para poucos.
Ai você me pergunta: - O que é a capacidade de um sonho?
E então, eu respondo: "- Sonho é quando você sai pela janela da liberdade, com ou sem rumo, mas com um só alvo: a felicidade.
É fazer o impossível pelo que você ama.
É amar de coração limpo.
Sonhar é não ter vergonha do que você sente, do que você quer.
É afastar o que você não deseja.
É dar para a própria vida um sentimento de liberdade onde o único que te prende são seus próprios desejos e pensamentos.
Sonhar, não é limitar-se à hipocresia do mundo.
É acreditar nas pessoas, e que cada um, da sua maneira, é capaz de ser o que quiser ser, e o melhor que pode ser."

Diversas vezes pensei que eu fosse uma pessoa tola, daquelas que ainda acredita em conto de fadas, até que um dia descobri que apesar de... a gente pode sonhar e acreditar. Que se a gente quiser, podemos "sim" viver na “Terra do Nunca”, não sei porque quando falo em sonhos eu sempre acabo falando na Terra do Nunca, acho que é porque eu gostaria que as pessoas fossem um pouquinho mais como o “Peter Pan”. Que não perdessem a pureza de coração, que acreditassem que "Ter bons pensamentos nos levará a voar através de nossos sonhos..."

Acredito que todos em algum momento já visitamos a Terra do Nunca. Seja em nossos sonhos durante a noite de sono, seja em nossos sonhos acordados em um momento de reflexão de nossas vidas. Na Terra do Nunca as crianças jamais envelhecem, são felizes e vivem aventuras maravilhosas. Podem até voar desde que tenham bons pensamentos. As coisas boas acontecem, mesmo quando tudo parece cinza e sem graça. Na Terra do Nunca, a gente pode confiar nos outros de olhos fechados. Pode dizer a verdade e esquecer os disfarces. Pode se jogar no abismo e descobrir que pode voar.

E então, você já esteve na Terra do Nunca?
Sonhos são possíveis, claro, não podemos voar, mas sonhar? Quem nos impedirá?

Se você tem um sonho, se realmente quer, lute por ele e ponto. Sempre haverá um Capitão Gancho querendo te desestimular. Mas não desista, o mundo pode ser melhor.

A felicidade está naqueles que acreditam e vão além de si mesmos.

Tenha a certeza que tudo chega ao tempo.

Nosso tempo, mesmo que a gente não compreenda não é o mesmo tempo de Deus. Somos humanos, erramos, mas se nem tudo for como você esperou, não se preocupe. Se você sonhou, se você lutou, seu momento vai chegar. E não esqueça dos bons sentimentos, eles guiam a nosso existência.


Cristiane Cruz

APRENDI

Aprendi que eu não posso exigir o amor de ninguém, posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e ter paciência, para que a vida faça o resto.

Aprendi que não importa o quanto certas coisas sejam importantes para mim, tem gente que não dá a mínima e eu jamais conseguirei convencê-las.

Aprendi que posso passar anos construindo uma verdade e destruí-la em apenas alguns segundos. Que posso usar meu charme por apenas 15 minutos, depois disso, preciso saber do que estou falando.

Eu aprendi... Que posso fazer algo em um minuto e ter que responder por isso o resto da vida. Que por mais que se corte um pão em fatias, esse pão continua tendo duas faces, e o mesmo vale para tudo o que cortamos em nosso caminho.

Aprendi... Que vai demorar muito para me transformar na pessoa que quero ser, e devo ter paciência. Mas, aprendi também, que posso ir além dos limites que eu próprio coloquei.

Aprendi que preciso escolher entre controlar meus pensamentos ou ser controlado por eles. Que os heróis são pessoas que fazem o que acham que devem fazer naquele momento, independentemente do medo que sentem.

Aprendi que perdoar exige muita prática. Que há muita gente que gosta de mim, mas não consegue expressar isso.

Aprendi... Que nos momentos mais difíceis a ajuda veio justamente daquela pessoa que eu achava que iria tentar piorar as coisas.

Aprendi que posso ficar furioso, tenho direito de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel. Que jamais posso dizer a uma criança que seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo se eu conseguisse convencê-la disso.

Eu aprendi... que meu melhor amigo vai me machucar de vez em quando, que eu tenho que me acostumar com isso. Que não é o bastante ser perdoado pelos outros, eu preciso me perdoar primeiro.

Aprendi que, não importa o quanto meu coração esteja sofrendo, o mundo não vai parar por causa disso.

Eu aprendi... Que as circunstâncias de minha infância são responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas escolhas que eu faço quando adulto.

Aprendi que numa briga eu preciso escolher de que lado estou, mesmo quando não quero me envolver. Que, quando duas pessoas discutem, não significa que elas se odeiem; e quando duas pessoas não discutem não significa que elas se amem.

Aprendi que por mais que eu queira proteger os meus filhos, eles vão se machucar e eu também. Isso faz parte da vida.

Aprendi que a minha existência pode mudar para sempre, em poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes.

Aprendi também que diplomas na parede não me fazem mais respeitável ou mais sábio.

Aprendi que as palavras de amor perdem o sentido, quando usadas sem critério. E que amigos não são apenas para guardar no fundo do peito, mas para mostrar que são amigos.

Aprendi que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre.
fada dos sonhos...
Cristiane Cruz

Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha entre ser gentil, não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

NADA COMO O TEMPO

Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela.

Percebe também que aquele alguém que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente não é o "alguém" da sua vida.

Você aprende a gostar de você, a cuidar de você e, principalmente, a gostar de quem também gosta de você.

O segredo é não correr atrás das borboletas... é cuidar do jardim para que elas venham até você.

No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

No meio da multidão estou sozinha..

No meio da multidão estou sozinha. Em meio a sorrisos, vozes alegres e risos, eu choro por dentro. Sinto que vou me afogar no meu mar de lágrimas. Não quero que me salvem, não quero que me toquem. Preciso encontrar o caminho sozinha. Preciso aprender sozinha. Sozinha. Eu estou sozinha e o mundo é mau. As pessoas só pensam no dinheiro, na realização pessoal, as pessoas não vêem mais o próximo. Elas constroem torres e prédios altíssimos porque querem dominar também o céu. Querem se aproximar das estrelas. As pessoas não sabem mais o significado da palavra amor. Banalizaram o "Eu te amo". Não conhecem a grandeza e a pureza que essas três palavras possuem juntas.  

 Não deixe, Deus, que eu caia na areia movediça do mundo. Não deixe que a hipocrisia e a ganância me sufoquem. Não deixe, Deus, que eu seja chicoteada pela maldade e pela mentira. Eu já sofri muito, não tenho mais curativos para esse tipo de ferida. Eu preciso da sua proteção, preciso da sua luz. Me proteja, Deus, de todo mal. Amém! ;Cristiane Cruz

sexta-feira, 8 de abril de 2011

SIMPLESMENTE AMOR

Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo.
Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos.
Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso.
Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.
Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.
Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.
Já passei horas na frente do espelho tentando descobrir quem sou, já tive tanta certeza de mim, ao ponto de querer sumir.
Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi.
Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto.
Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir.
Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.
Já tive crises de riso quando não podia.
Já quebrei pratos, copos e vasos, de raiva.
Já senti muita falta de alguém, mas nunca lhe disse.
Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar.
Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros.
Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.
Já contei piadas e mais piadas sem graça, apenas para ver um amigo feliz.
Já inventei histórias com final feliz para dar esperança a quem precisava.
Já sonhei demais, ao ponto de confundir com a realidade... Já tive medo do escuro, hoje no escuro "me acho, me agacho, fico ali".
Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais.
Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria.
Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.
Já chamei pela mamãe no meio da noite fugindo de um pesadelo. Mas ela não apareceu e foi um pesadelo maior ainda.
Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim.
Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostre o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das idéias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes.
Tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos.
Você pode até me empurrar de um penhasco q eu vou dizer:
- E daí? EU ADORO VOAR!

PARA UMA MENINA COM UMA FLOR

" Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz que não sai, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você bater pino, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, tem um ar recuado e gosta de brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.

E porque você é uma menina com uma flor e chorou na estação de Roma porque nossas malas seguiram sozinhas para Paris e você ficou morrendo de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras. E porque você sonha que eu estou passando você para trás, transfere sua d.d.c. para o meu cotidiano, e implica comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar. E porque quando você começou a gostar de mim procurava saber por todos os modos com que camisa esporte eu ia sair para fazer mimetismo de amor, se vestindo parecido. E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata. E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.

E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca. E porque você tem um ursinho chamado Nounouse e fala mal de mim para ele, e ele escuta e não concorda porque ele é muito meu chapa, e quando você se sente perdida e sozinha no mundo você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho. E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação, e você é capaz de ficar me olhando horas.

E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando. E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora purê de batata, eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.

E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, "Minha namorada", a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.

E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo você subir agora - tão purinha entre as marias-sem-vergonha - a ladeira que traz ao nosso chalé, aqui nessas montanhas recortadas pela mão de Guignard; e o meu coração, como quando você me disse que me amava, põe-se a bater cada vez mais depressa.

E porque eu me levanto para recolher você no meu abraço, e o mato à nossa volta se faz murmuroso e se enche de vaga-lumes enquanto a noite desce com seus segredos, suas mortes, seus espantos - eu sei, ah, eu sei que o meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, e você é a filha dileta de todas as mulheres que eu amei; e que todas as mulheres que eu amei, como tristes estátuas ao longo da aléia de um jardim noturno, foram passando você de mão em mão até mim, cuspindo no seu rosto e enfrentando a sua fronte de grinaldas; foram passando você até mim entre cantos, súplicas e vociferações - porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor. "
 
Cristiane Cruz

quarta-feira, 6 de abril de 2011

HÁ QUEM PASSE PELA VIDA...

Há quem passe e deixe só cicatrizes,
Há quem passe semeando flores.

Há quem passe banhando-nos em lágrimas,
Há quem passe disposto a secá-las.
Há quem passe torcendo por nossa vitória,
Há quem passe aplaudindo nossos fracassos.
Há quem passe ajudando-nos a levantar,
Há quem passe fazendo-nos cair.
Há quem passe como sombra,
Há quem passe como luz.
Há quem passe como pedra no caminho,
Há quem passe como pedra de construção.
Há quem para todo todo deslize veja uma falha
irreparável,
Há quem nos ofereça o perdão.
Há quem ignore nossos erros,
Há quem nos ajude a corrigir.
Há quem passe rápido, veloz, despercebido,
Há quem deixe marcas profundas.
Há quem simplesmente passe,
Há quem fique para sempre no coração.
Há quem passe pela vida,
Mas, há quem não deixe a vida passar
Sem um gesto de carinho,
Sem o AMOR ofertar!

VIDA!

Charles Chaplin
Já perdoei erros quase imperdoáveis,
tentei substituir pessoas insubstituíveis
eesquecer pessoas inesquecíveis”.
Já abracei pra proteger,
Já dei risada quando não podia,
Já fiz amigos eternos,
já amei e fui amado,
mas também
já fui rejeitado,
Já fui amado e não soube amar.
Já gritei e pulei
de tanta felicidade,
já vivi de amor
e fiz juras eternas,
mas "quebrei a cara"
muitas vezes!
Já chorei ouvindo música e vendo fotos,
Já liguei só pra escutar uma voz,
Já me apaixonei por um sorriso,
Já pensei que fosse morrer de tanta saudade
e...
...tive medo de perder alguém especial
(e acabei perdendo)! Mas sobrevivi!
E ainda vivo!
Não passo pela vida...
e você também não deveria passar. Viva!!!
Bom mesmo é ir a luta com determinação,
abraçar a vida e viver com paixão,
perder com classe e vencer com ousadia,
porque o mundo pertence a quem se atreve
eA VIDA É MUITO
para ser insignificante"

Chaplin





SILÊNCIO

É tão vasto o silêncio da noite na montanha. É tão despovoado. Tenta-se em vão trabalhar para não ouvi-lo, pensar depressa para disfarçá-lo. Ou inventar um programa, frágil ponto que mal nos liga ao subitamente improvável dia de amanhã. Como ultrapassar essa paz que nos espreita. Silêncio tão grande que o desespero tem pudor. Montanhas tão altas que o desespero tem pudor. Os ouvidos se afiam, a cabeça se inclina, o corpo todo escuta: nenhum rumor. Nenhum galo. Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio. Desse silêncio sem lembranças de palavras. Se és morte, como te alcançar.
É um silêncio que não dorme: é insone: imóvel mas insone; e sem fantasmas. É terrível - sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e diga alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. Se ao menos houvesse o vento. Vento é ira, ira é a vida. Ou neve. Que é muda mas deixa rastro - tudo embranquece, as crianças riem, os passos rangem e marcam. Há uma continuidade que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode falar do silêncio como se fala da neve. Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: sentiu o silêncio desta noite? Quem ouviu não diz.
 A noite desce com suas pequenas alegrias de quem acende lâmpadas com o cansaço que tanto justifica o dia. As crianças de Berna adormecem, fecham-se as últimas portas. As ruas brilham nas pedras do chão e brilham já vazias. E afinal apagam-se as luzes as mais distantes.
 Mas este primeiro silêncio ainda não é o silêncio. Que se espere, pois as folhas das árvores ainda se ajeitarão melhor, algum passo tardio talvez se ouça com esperança pelas escadas.
 Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da terra a lua alta. Então ele, o silêncio, aparece.
 O coração bate ao reconhecê-lo.
 Pode-se depressa pensar no dia que passou. Ou nos amigos que passaram e para sempre se perderam. Mas é inútil esquivar-se: há o silêncio. Mesmo o sofrimento pior, o da amizade perdida, é apenas fuga. Pois se no começo o silêncio parece aguardar uma resposta - como ardemos por ser chamados a responder - cedo se descobre que de ti ele nada exige, talvez apenas o teu silêncio. Quantas horas se perdem na escuridão supondo que o silêncio te julga - como esperamos em vão por ser julgados pelo Deus. Surgem as justificações, trágicas justificações forjadas, humildes desculpas até a indignidade. Tão suave é para o ser humano enfim mostrar sua indignidade e ser perdoado com a justificativa de que se é um ser humano humilhado de nascença.
 Até que se descobre - nem a sua indignidade ele quer. Ele é o silêncio.
 Pode-se tentar enganá-lo também. Deixa-se como por acaso o livro de cabeceira cair no chão. Mas, horror - o livro cai dentro do silêncio e se perde na muda e parada voragem deste. E se um pássaro enlouquecido cantasse? Esperança inútil. O canto apenas atravessaria como uma leve flauta o silêncio.
 Então, se há coragem, não se luta mais. Entra-se nele, vai-se com ele, nós os únicos fantasmas de uma noite em Berna. Que se entre. Que não se espere o resto da escuridão diante dele, só ele próprio. Será como se estivéssemos num navio tão descomunalmente enorme que ignorássemos estar num navio. E este singrasse tão largamente que ignorássemos estar indo. Mais do que isso um homem não pode. Viver na orla da morte e das estrelas é vibração mais tensa do que as veias podem suportar. Não há sequer um filho de astro e de mulher como intermediário piedoso. O coração tem que se apresentar diante do nada sozinho e sozinho bater alto nas trevas. Só se sente nos ouvidos o próprio coração. Quando este se apresenta todo nu, nem é comunicação, é submissão. Pois nós não fomos feitos senão para o pequeno silêncio.
 Se não há coragem, que não se entre. Que se espere o resto da escuridão diante do silêncio, só os pés molhados pela espuma de algo que se espraia de dentro de nós. Que se espere. Um insolúvel pelo outro. Um ao lado do outro, duas coisas que não se vêem na escuridão. Que se espere. Não o fim do silêncio mas o auxílio bendito de um terceiro elemento, a luz da aurora.
 Depois nunca mais se esquece. Inútil até fugir para outra cidade. Pois quando menos se espera pode-se reconhecê-lo - de repente. Ao atravessar a rua no meio das buzinas dos carros. Entre uma gargalhada fantasmagórica e outra. Depois de uma palavra dita. Às vezes no próprio coração da palavra. Os ouvidos se assombram, o olhar se esgazeia - ei-lo. E dessa vez ele é fantasma.

Clarice Lispector- "Onde estivestes de noite?"





CORRER RISCOS

Rir é correr risco de parecer tolo.
Chorar é correr o  risco de parecer sentimental.
Estender a mão é correr o risco de se envolver.
Expor seus sentimentos é correr o risco de mostrar seu verdadeiro eu.
Defender seus sonhos e idéias diante da multidão é correr o risco de perder as pessoas.
Amar é correr o risco de não ser correspondido.
Viver é correr o risco de morrer.
Confiar é correr o risco de se decepcionar.
Tentar é correr o risco de fracassar.
Mas os riscos devem ser corridos, porque o maior perigo é não arriscar nada.
Há pessoas que não correm nenhum risco, não fazem nada, não têm nada e não são nada.
Elas podem até evitar sofrimentos e desilusões, mas elas não conseguem nada, não sentem nada, não mudam, não crescem, não amam, não vivem.
Acorrentadas por suas atitudes, elas viram escravas, privam-se de sua liberdade.

Somente a pessoa que corre riscos é livre!

Seneca
(orador romano)
 

ATIRE A PRIMEIRA FLOR


 

Quando tudo parecer caminhar errado, seja você a tentar o primeiro passo certo;
 Se tudo parecer escuro, se nada puder ser visto, acenda você a primeira luz,
traga para a treva, você primeiro, a pequena lâmpada;
Quando todos estiverem chorando,  tente você o primeiro sorriso;
talvez não na forma de lábios sorridentes, mas na de um coração que
compreenda, de braços que confortem;

Se a vida inteira for um imenso não, não pare você na busca do primeiro
sim, ao qual tudo de positivo deverá seguir-se;
Quando ninguém souber coisa alguma, e você  souber um pouquinho,
seja o primeiro a ensinar,  começando por aprender você mesmo,
corrigindo-se a si mesmo;
 Quando alguém estiver angustiado à procura, consulte  bem o que se passa,
talvez seja em busca de você mesmo que este seu irmão esteja;
Daí, portanto, o seu deve ser o primeiro  a aparecer,  o primeiro a mostrar-se,
primeiro que pode ser o único e,  mais sério ainda, talvez o último;
Quando a terra estiver seca,  que sua mão seja a primeira a regá-la;
quando a flor se sufocar na urze e no espinho,
que sua mão seja  a primeira a separar o joio, a arrancar a praga,
a afagar a pétala, a acariciar a flor;
Se a porta estiver fechada, de você venha a primeira chave;
Se o vento sopra frio, que o calor de sua lareira seja a  primeira proteção
e primeiro abrigo.
Se o pão for apenas massa e  não estiver cozido,
seja você o primeiro forno para transformá-lo em alimento.
Não atire a primeira pedra em quem erra.
De acusadores o mundo está cheio; nem, por outro lado, aplauda o erro;
dentro em pouco, a ovação será ensurdecedora;
 Ofereça sua mão primeiro para levantar quem caiu; 
sua atenção primeiro para  aquele que foi esquecido;
 Seja você o primeiro para aquele que não tem ninguém;
 Quando tudo for espinho, atire a primeira flor;
seja o primeiro a mostrar que há  caminho de volta,
 compreendendo que o perdão regenera,
que a  compreensão edifica,  que o auxílio possibilita,
 que o entendimento reconstrói.
 Atire você, quando tudo for pedra,
a primeira e decisiva flor.